sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Eban Seidiz

Conheci-o na minha primeira viagem a Istambul.
Como as diferenças raciais e étnicas do Médio Oriente não são a minha especialidade sempre assumi, por defeito, que ele seria turco.
Fomos mantendo contacto porque ele têm preços óptimos, até que na última vez, no meio de um regatear, decidi perguntar de que zona da Turquia era aquele miúdo vivaço.
Disse que era afegão. De uma província, isolada onde os talibans dominam.

Tinha 15 anos de vida.
Com 15 anos, decidiu sair da terra onde vivia, deixar pais e irmãos para trás, sem saber o que lhes aconteceria num futuro próximo com a sua "deserção" à pátria e à causa.
Pôs-se a caminho da Turquia.
Caminhou durante três meses.
O objectivo era muito claro: juntar-se ao primo que vivia na grande metrópole turca.
Dormia debaixo de camiões, dentro de barracos, encostado à sombra de uma das poucas árvores que encontrava. Maior parte das vezes descansava de dia. a noite era mais fresca e segura para caminhar.
Chegou a Istambul.
Tudo lhe parecia limpo, organizado, sofisticado, moderno.
Viu carros que nunca tinha visto.
Viu arranha-céus iguais aos filmes.
Viu lojas que ainda hoje não pode entrar.
E viu mulheres. Muitas.
Mulheres loiras que só via nos filmes.
Ah, as mulheres loiras!

"Portugal tem mulheres loiras?"


4 comentários:

Memórias 2019: Bali, Indonésia

Memórias Avulsas: No regresso a Bali, voltei a encontrar a sofisticação oriental de tantos lugares, que não mata a cultura local. O bulício...